André Contreiro Azevedo
Curso de Especialização Filosofia e Psicanálise
UFES- Universidade Federal do Espírito Santo
Disciplina: “Freud como Teórico da Modernidade Bloqueada”
Professor: Vladimir Safatle
Resumo
Curso de Especialização Filosofia e Psicanálise
UFES- Universidade Federal do Espírito Santo
Disciplina: “Freud como Teórico da Modernidade Bloqueada”
Professor: Vladimir Safatle
Resumo
Este Artigo foi realizado como parte das atividades desenvolvidas do curso de Especialização em Filosofia e Psicanálise e tem como objetivo apresentar, baseado nas teorias de Freud, como um grupo psicológico é capaz de exercer influências tão decisivas sobre a vida mental do indivíduo. Mobilizados por uma “obediência cega” advinda de uma coletividade neurótica somada a uma liderança autoritária, tais indivíduos sem questionar ou julgar uma ordem recebida e até mesmo uma ideologia imposta agem de maneira violenta e irracional que muitas vezes vai de encontro as suas próprias vontades.
Palavras chaves: Grupo Psicológico, Indivíduo, Coletividade, Terrorista
ABSTRACT
This article was conducted as part of the activities of the Specialization Course in Philosophy and Psychoanalysis and aims to present, based on the theories of Freud, as a psychological group is able to exert so decisive influences on the individual's mental life. Mobilized by a "blind obedience" originated from a collective neurotic added to authoritarian leadership, these individuals without questioning or judging an order received and even an ideology imposed act violently and irrationally that often go against their own wills.
Keywords: Psychological Group, Individual, Collective, Terrorist
1. Introdução
Como objeto de reflexão pretende-se analisar a ação dos terroristas suicidas nos ataques de 11 de setembro ocorridos no ano de 2001 nos Estados Unidos. Na manhã daquele dia, coordenados pelo grupo fundamentalista Al Qaeda, 19 terroristas seqüestraram quatro aviões comerciais a jato de passageiros e desencadearam uma série de ataques suicidas.
Intencionalmente os seqüestradores bateram dois dos aviões contra as Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova Iorque, matando todos a bordo e muitos dos que trabalhavam nos edifícios. Ambos os prédios desmoronaram em duas horas, destruindo construções vizinhas e causando outros danos. O terceiro avião de passageiros caiu contra o Pentágono, em Arlington, Virgínia, nos arredores de Washington, D.C. O quarto avião caiu em um campo próximo de Shanksville, na Pensilvânia, depois que alguns de seus passageiros e tripulantes tentaram retomar o controle do avião, que os sequestradores tinham reencaminhado para Washington, D.C. Não houve sobreviventes em qualquer um dos vôos. O total de mortos nos ataques foi 2 996 pessoas, incluindo os 19 sequestradores.
Devido a grandes proporções de ataques terroristas nas últimas décadas, muitos pesquisadores têm analisado o perfil destes suicidas que, diferente do senso comum, não é de um psicopata ou de um bandido. Normalmente o terrorista suicida é um ser como qualquer outro com princípios morais e religiosos. O psiquiatra mulçumano Dr. Eyad Sarraj acrescenta que os terroristas islâmicos são "geralmente pessoas tímidas, introvertidas e não violentas, de uma forma geral".
Seriam então os terroristas suicidas pessoas loucas? Um renomado psicólogo da universidade de Tel-Aviv, Dr. Ariel Merari, que estudou cada terrorista suicida no Oriente Médio por um período aproximado de 18 anos, afirma que não conheceu nenhum caso de terrorista suicida que fosse realmente psicótico.
Diante de tais constatações, quais são as bases científicas para as técnicas de controle da mente de pessoas que se sentem orgulhosas sacrificando sua própria vida para abreviar a existência dos seus semelhantes? O que leva uma mente a cometer atos tão insanos?
2. A experiência de Ivan Pavlov
Alguns pesquisadores que investigam mudanças de atitudes apostaram que o fenômeno descoberto pelo psicólogo russo Ivan Pavlov no início do século XX poderia ser a explicação para isto. Pavlov descobriu acidentalmente que cães que foram submetidos a situações extremamente estressantes (como quando eles quase se afogaram em suas gaiolas durante uma enchente no porão do laboratório de Pavlov em São Petersburgo) perderam todo o condicionamento que eles haviam adquirido previamente. Além disso, os cães passaram a mostrar alterações permanentes no temperamento e sensibilidade emocional. Pavlov foi posteriormente capaz de condicionar os cães com comportamentos inteiramente novos e até opostos àqueles que foram perdidos previamente. A polícia comunista posteriormente adequou os achados de Pavlov para desenvolver técnicas para modificação comportamental e de atitude para inimigos do regime.
No entanto, até o presente momento, nenhuma pesquisa foi realizada sobre quais são as bases neurais da modificação radical do comportamento usando estes métodos.
No entanto, até o presente momento, nenhuma pesquisa foi realizada sobre quais são as bases neurais da modificação radical do comportamento usando estes métodos.
3. A Psicologia do Grupo
Freud em seu livro “Psicologia das Massas e análise do Eu, faz uma análise de como se dá a relação de um indivíduo, seus impulsos instintuais, os motivos e os fins e até as suas ações com aqueles que lhes são mais próximos. Analisa também como tais indivíduos são influenciados, sob certas condições, a tal ponto de agir, pensar e sentir de maneira completamente diferente daquela que seria esperada. Conforme Freud “esta condição é a inclusão deste indivíduo que adquiriu a característica de um “grupo psicológico”.
Explicando o que é um grupo psicológico e a influência que o mesmo exerce sobre o indivíduo Freud citando Le bom diz:
‘A peculiaridade mais notável apresentada por um grupo psicológico é a seguinte: sejam quem forem os indivíduos que o compõem, por semelhantes ou dessemelhantes que sejam seu modo de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, o fato de haverem sido transformados num grupo coloca-os na posse de uma espécie de mente coletiva que os faz sentir, pensar e agir de maneira muito diferente daquela pela qual cada membro dele, tomado individualmente, sentiria, pensaria e agiria, caso se encontrasse em estado de isolamento”. (FREUD,1999, pg. 04).
Na tentativa de descobrir as causas que diferem o comportamento de um indivíduo que faz parte de um grupo, do indivíduo isolado, Freud usa a verdade estabelecida pela psicologia moderna de que os fenômenos inconscientes desempenham papel inteiramente preponderante não apenas na vida orgânica, mas também nas operações da inteligência. Considera que a vida consciente da mente é de pequena importância, em comparação com sua vida inconsciente. Nossos atos conscientes são o produto de um substrato inconsciente criado na mente, principalmente por influências hereditárias. Esse substrato consiste nas inumeráveis características comuns, transmitidas de geração a geração, que constituem o gênio de uma raça.
Nessa linha de reflexão, Segundo Jung, o inconsciente coletivo é o conjunto das imagens primordiais (arquétipos) e representações primitivas que tornaram-se heranças de geração para geração e que constituem os traços coletivos verificados no interior do psiquismo (inconsciente) de cada indivíduo. Esses arquétipos não têm como origem nem são influenciados por experiências pessoais do indivíduo e sim transmitidas como lembranças através das gerações subseqüentes.
Mc Dougall, citado por Freud, resumindo o comportamento de um grupo diz que:
...é excessivamente emocional, impulsivo, violento, inconstante, contraditório e extremado em sua ação, apresentando apenas as emoções rudes e os sentimentos menos refinados; extremamente sugestionável, descuidado nas deliberações, apressado nos julgamentos, incapaz de qualquer forma que não seja a mais simples e imperfeita das formas de raciocínio; facilmente influenciado e levado, desprovido de autoconsciência, despido de auto-respeito e de senso de responsabilidade, e apto a ser conduzido pela consciência de sua própria força, de maneira que tende a produzir todas as manifestações que aprendemos a esperar de qualquer poder irresponsável e absoluto. Daí seu comportamento assemelhar-se mais ao de uma criança indisciplinada ou de um selvagem passional e desassistido numa situação estranha, do que ao de seu membro médio, e, nos piores casos, ser mais semelhante ao de um animal selvagem que ao de seres humanos.’ (FREUD,1999, pg.20)
4. Quem são os terroristas suicidas
Nessa perspectiva é importante observar que os terroristas suicidas envolvidos nos ataques de 11 de setembro fazem parte de uma organização terrorista de fundamentalismo Islâmico denominada Al Qaeda. O fundador e líder deste grupo terrorista é Osama Bin Muhammad Bin Laden. Bin Laden nasceu na Arábia Saudita no ano de 1957. Filho de um importante construtor da região ele se formou em Economia e Engenharia, recebendo uma educação ocidentalizada em países como a Suíça, por exemplo.
Atualmente, os objetivos principais da Al Qaeda são: difundir ideais islâmicos, acabar com regimes corruptos nos países muçulmanos e destruir os poderes, especialmente ocidentais, que tentam infiltrar-se no mundo muçulmano. Atentados como o 11 de setembro é uma prova de como a Al Qaeda age e como tem conseguido espalhar o medo pelo mundo (Stern, 2004).
Assim como os terroristas do ataque de 11 de setembro a maioria dos militantes da Al Qeada são devidamente recrutados. Os recrutadores geralmente localizam as pessoas com vocações promissoras em mesquitas e seminários e após um período de observação são levados para um acampamento onde são analisados alguns fatores como: compromisso com o Islã, segurança psicológica, inteligência e condicionamento físico. Os acampamentos têm diversas utilidades além de treinamentos, criando laços sociais para que os militantes se sintam totalmente comprometidos com a causa proposta.
A parte mais importante do treinamento é a preparação mental e a doutrinação religiosa, que inclui a lei histórica do Islã e como desencadear uma guerra santa. Esta parte do treinamento coloca na cabeça dos futuros terroristas a idéia de que existe um inimigo cruel promovendo uma nova Cruzada contra as terras do Islã. Este inimigo deve ser combatido militarmente.
Os membros da Al Qaeda acreditam fortemente que ser um mártir e morrer pela causa do grupo é uma das maiores honras possíveis. O terrorista suicida é aclamado como herói lhe é prometido recompensas celestiais, enquanto seus familiares recebem dinheiro e o status de ter um filho mártir.
5. O Contágio e a alta Sugestionalidade
Em relação ao contágio segundo Freud:
Em um grupo, todo sentimento e todo ato são contagiosos, e contagiosos em tal grau, que o indivíduo prontamente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo. Trata-se de aptidão bastante contrária à sua natureza e da qual um homem dificilmente é capaz, exceto quando faz parte de um grupo...
...pelo simples fato de fazer parte de um grupo organizado, um homem desce vários degraus na escada da civilização. Isolado, pode ser um indivíduo culto; numa multidão, é um bárbaro, ou seja, uma criatura que age pelo instinto. Possui a espontaneidade, a violência, a ferocidade e também o entusiasmo e o heroísmo dos seres primitivos (FREUD,1999, pg.07)
Abordando sobre a influência da sugestão que é comum em um grupo, Freud diz que a sugestionabilidade é na realidade um fenômeno irredutível e primitivo, um fato fundamental na vida mental do homem. Sob a influência de uma sugestão, empreenderá a realização de certos atos com irresistível impetuosidade, onde o indivíduo já não se acha consciente de seus próprios atos. Conforme Freud:
A fim de fazer um juízo correto dos princípios éticos do grupo, há que levar em consideração o fato de que, quando indivíduos se reúnem num grupo, todas as suas inibições individuais caem e todos os instintos cruéis, brutais e destrutivos, que neles jaziam adormecidos, como relíquias de uma época primitiva, são despertados para encontrar gratificação livre. Mas, sob a influência da sugestão, os grupos também são capazes de elevadas realizações sob forma de abnegação, desprendimento e devoção a um ideal. (FREUD,1999, pg. 28)
6. A influência de um chefe
Nessa concepção, Freud acredita que as investigações mais cuidadosas parecem demonstrar que um indivíduo imerso por certo lapso de tempo num grupo em ação, cedo se descobre, seja em conseqüência da influência magnética emanada do grupo, seja devido a alguma outra causa por nós ignorada, num estado especial, que se assemelha muito ao estado de ‘fascinação’ em que o indivíduo hipnotizado se encontra nas mãos do hipnotizador. A personalidade consciente desvaneceu-se inteiramente; a vontade e o discernimento se perderam. Todos os sentimentos e o pensamento inclinam-se na direção determinada pelo “hipnotizador”.
Le Bom citado por Freud diz que um grupo é um rebanho obediente, que nunca poderia viver sem um senhor e que o anseio pela obediência é tão grande que se submete instintivamente a qualquer um que se indique a si próprio como chefe. Este chefe deve ser fascinado por uma intensa fé, numa idéia, a fim de despertar a fé do grupo; tem de possuir vontade forte e imponente, que o grupo, que não tem vontade própria, possa dele aceitar. Le Bom acredita que os líderes se fazem notados por meio das idéias em que eles próprios acreditam fanaticamente.
7. Conclusão
A partir das descrições expostas é possível concluir como é marcante a predominância da psicologia de um grupo sobre o indivíduo que a ele pertence. Condicionados a um ideal, muitas vezes contraditório e irracional, pessoas que isoladamente seriam incapazes de cometer atos tão insanos, são capazes de exterminarem muitas vidas além de sacrificarem as suas próprias. O impacto da mente coletiva sobre o indivíduo é tão grande que o mesmo perde a sua individualidade e passa a ser controlado irrefletidamente por um grupo que exerce um poder imensurável sobre ele, substituindo sua liberdade por uma imposição que o submete a situações extremas, como foi relatado ao analisar as motivações dos terroristas suicidas. Freud considera a falta de liberdade o principal fenômeno da psicologia do grupo.
É impressionante a intensidade dos vínculos emocionais entre os membros do grupo que foi especificado neste artigo. Para eles não há espaço para diálogo algum e o fanatismo em combater os que por eles são chamados “infiéis” faz com que não poupem pessoas inocentes, matando crianças e adultos, homens e mulheres sem distinção. A falta de equilíbrio e independência nas suas iniciativas, o descontrole emocional somado a facilidade de exceder os limites nas suas ações são características evidentes do grupo psicológico analisado.
8. Referências
FREUD, Sigmund; Psicologia das Massas e Análise do Eu, Frankfurt, Fischer, 1999.
GILBERTO SARFATI & GABRIELA TOUTIN; Análise Cognitiva do Terrorismo do Eta e da Al Qaeda. Revista de Psicologia Política, vol. 6, n 12, 2006.
LAWRENCE A. PERVIN & OLIVER P. JOHN; Personalidade: Teoria e Pesquisa, 8ª ed. Artmed, São Paulo, 2008
MARCO M. CALEGARO; O Terrorismo, o Nacionalismo e a Mente Humana. Acessado em 12 de outubro de 2010, de http://www.cerebromente.org.br/n14/opinion/terrorista.html.
MARIA DE FÁTIMA, Amorim; Filosofia Ensino Médio. Coleção Pitágoras, Vol. 1, 2009.
SAFATLE, Vladimir; Freud como Teórico da Modernidade Bloqueada, Especialização Filosofia e Psicanálise, Universidade Federal do Espírito Santo, Módulo II, 2010.
WILKIPEDIA; ataques de 11 de Setembro de 2001. Acessado em 12 de outubro de 2010, de http://pt.wikipedia.org/wiki/Ataques_de_11_de_setembro_de_2001.
É impressionante a intensidade dos vínculos emocionais entre os membros do grupo que foi especificado neste artigo. Para eles não há espaço para diálogo algum e o fanatismo em combater os que por eles são chamados “infiéis” faz com que não poupem pessoas inocentes, matando crianças e adultos, homens e mulheres sem distinção. A falta de equilíbrio e independência nas suas iniciativas, o descontrole emocional somado a facilidade de exceder os limites nas suas ações são características evidentes do grupo psicológico analisado.
8. Referências
FREUD, Sigmund; Psicologia das Massas e Análise do Eu, Frankfurt, Fischer, 1999.
GILBERTO SARFATI & GABRIELA TOUTIN; Análise Cognitiva do Terrorismo do Eta e da Al Qaeda. Revista de Psicologia Política, vol. 6, n 12, 2006.
LAWRENCE A. PERVIN & OLIVER P. JOHN; Personalidade: Teoria e Pesquisa, 8ª ed. Artmed, São Paulo, 2008
MARCO M. CALEGARO; O Terrorismo, o Nacionalismo e a Mente Humana. Acessado em 12 de outubro de 2010, de http://www.cerebromente.org.br/n14/opinion/terrorista.html.
MARIA DE FÁTIMA, Amorim; Filosofia Ensino Médio. Coleção Pitágoras, Vol. 1, 2009.
SAFATLE, Vladimir; Freud como Teórico da Modernidade Bloqueada, Especialização Filosofia e Psicanálise, Universidade Federal do Espírito Santo, Módulo II, 2010.
WILKIPEDIA; ataques de 11 de Setembro de 2001. Acessado em 12 de outubro de 2010, de http://pt.wikipedia.org/wiki/Ataques_de_11_de_setembro_de_2001.
Parabéns
ResponderExcluirA cada dia você tem procurado atuar de forma significativa no curso.
Vamos adiante e conte comigo.
Att.
Adriana